Flow, você não sabe o que está perdendo.
Última atualização: 15 de março de 2019
“Os melhores momentos de nossas vidas não ocorrem quando estamos passivos, receptivos ou relaxados… Os melhores momentos normalmente ocorrem quando nosso corpo e mente são levados aos limites em um esforço voluntário para realizar algo difícil e gratificante. “ – Mihaly Csikszentmihalyi
autor do livro Flow, A Psicologia da Experiência Otima
.
Um exemplo marcante vivo na memória da geração que acompanhou a carreira de Ayrton Senna
, é seu depoimento sobre seu estado mental durante a disputa da Pole Position para o Grand Prix de Mônaco de 1988, onde colocou 1:47 segundos de diferença sobre Alain Prost, que tinha exatamente o mesmo carro que ele. Em suas próprias palavras Ayrton descreveu: “Eu já estava na pole, primeiro por meio segundo, depois por um segundo, e eu continuei baixando. De repente eu estava dois segundos mais rápido que todos os outros, incluindo meu colega de equipe com o mesmo carro. E repentinamente eu percebi que já não estava mais pilotando o carro conscientemente. Estava pilotando por um tipo de instinto, como se eu estivesse em uma dimensão diferente. Foi como se eu estivesse em um túnel, não apenas o túnel do hotel, mas todo o circuito era um túnel. Eu estava indo e indo e cada vez mais e mais e mais rápido. Estava bem acima do limite, mas ainda capaz de encontrar muito mais. Então eu acordei”.
Dentre várias obsessões que tive em minha vida, poucas se comparam com a paixão pelo vôo livre de parapente
. Para atingir um grau de proficiência no parapente é necessário anos de prática, muita auto-disciplina e paciência, pois é um esporte de auto risco e qualquer erro pode ter consequências muito sérias. Além disso, há muitas variáveis que devem ser levadas em consideração tais como condições meteorológicas, regras de tráfego no ar, geografia do terreno, termodinâmica, navegação e seu próprio estado físico e mental.
Desde que tirei pela primeira vez os pés no chão em meu primeiro vôo solo em 2003 na Suíça, por muitos anos foi foco de estudos, viagens, práticas e cursos a fim de me aperfeiçoar e aprimorar técnicas. E mais do que isso, esta obsessão vinha em sonhos durante o dia, onde eu mentalizava e imaginava situações de vôos extraordinários que serviam de inspiração e objetivo. Este ímpeto me levava a praticar mais e mais, e assim as experiências adquiridas e melhorias incrementais retroalimentavam este processo obsesivo.
Em 2008, tive a oportunidade de fazer uma clínica de vôo livre de duas semanas em Governador Valadares, considerado um das Mecas deste esporte no mundo. Lá pelo final da temporada, teve um dia que me marcou muito. Era final de tarde, quando decolei do pico do Ibituruna sem nenhuma pretenção de fazer um vôo de distância, mas simplesmente para desfrutar, após vários dias seguidos e intensos de prática. Em determinado momento, eu peguei uma térmica (corrente ascendente de ar) e comecei a circular para aproveitar sua energia para ganhar altitude. Em seguida alguns urubus se juntaram a mim e começamos a dividir esta mesma térmica. Meu foco passou a sentir a térmica usando todos meus sentidos para corrigir minha trajetória para seguir os urubus. De repente, percebi que minha mente e corpo atuavam sintonia, onde cada movimento nos comandos do parapente se tornaram naturais e instintivos. Literalmente o equipamento se tornou uma extensão do meu corpo, uma coisa só, naquele momento era como se eu tivesse asas. Estava tão conectado àquele momento, que aqueles poucos minutos demoraram uma eternidade e enfim pude perceber a paisagem, respirar o ar e apreciar o que estava a meu redor. Foi uma sensação era de muito prazer e também de tranquilidade.
Tive muitos outros momentos de Flow não somente no vôo livre, mas em outras obsessões como busca de proficiência em temas de meu interesse e no trabalho executando projetos desafiadores. Minha busca continua e hoje estou atrás de outras obsessões que envolvem tecnologia, empreendedorismo, disseminação de conhecimento e terceiro setor.
Provavelmente o benefício maior que obtemos do estado de Flow é uma mudança interna no nosso “eu” psicológico. Muitas pessoas vivem para atingir objetivos que são impostas por terceiros (por exemplo seus pais, amigos, sociedade, etc). Experiências de Flow nos fazem a ser alguém que escolhe seus objetivos e pratica atividades simplesmente para recompensar o prazer de fazê-lo. Com foco e proficiência, nós prestamos mais atenção no mundo ao nosso redor, apreciamos sua beleza e complexidade e ficamos mais curiosos para aprender mais. Não ficamos escravos da fama, fortuna ou poder, porque não precisamos destas coisas para dar sentido em nossa vida.
E você, o que está esperando para buscar um estado de Flow?
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